O Brasil é um mundo de sabores, aromar. Afirmação
indiscutível. Um dos nossos grandes ícones da culinária e o casamento mais
duradouro que conheço, é um que não me agrada tanto, porém, faço parte dos 1%
que não o apreciam, e estou dizendo do arroz e feijão. A receita que vou
apresentar remonta uma região onde a seca castiga e alimentar-se requer muita
criatividade, pois a abundância lá muitas vezes é inexistente. O baião de dois
é um prato tipicamente nordestino, de composição e preparo fácil e extremamente
saboroso. Eu que não como o arroz e feijão juntos, me delicio e valorizo muito
um baião de dois. Como não gostar de um prato feito com manteiga de garrafa, coalho
e carne de sol?
O baião de dois é um prato musical. Foi cantado na
voz de Luíz Gonzaga, o rei do baião. Um estilo de música, dentro do forró,
porém que vem da cultura dos escravos enraizado no lundu, vindos de Angola. E
essa é apenas uma das formas que foi mostrada. No final da receita, vou
apresentar um poema em cordel, que também retrata bem o prato.
O verso de Luiz Gonzaga:
“Capitão que
moda é essa? Deixe a trempe e a cuié
Homem não
vai pra cozinha, que é lugar só de mulé.
Vou juntar
feijão de corda numa panela de arroz
Capitão vá
lá pra sala que hoje tem baião de dois
Ó baião que
bom que sois
Se o baião é
bom sozinho, que dirá baião de dois”
O baião de dois, em termos de referência, vem do sertão
do Ceará, uma área muito seca e que desperdício de alimento não existe no vocabulário.
Lá, a receita é feita sempre utilizando o feijão do cozimento diário, o arroz e
os restos que sobraram, juntaram o coalho e a carne de sol e assim foi criado.
O feijão é o de corda ainda na vagem, verde ou maduro. O arroz é da terra. A
manteiga de garrafa é bem tradicional no Nordeste brasileiro, que também recebe
alguns nomes como manteiga de gado, manteiga da terra ou manteiga de cozinha. Ela
é líquida, mas que endurece na geladeira. Dura mais que manteiga comum, e caso
não ache no mercado ou na feira, use manteiga clarificada que também fica ótimo.
Esses ingredientes fazem a diferença, mas nada que você não possa substituir
pelo que tem a sua disposição.
Como o prato ganhou projeção nacional, em algumas
outras regiões possuem outros nomes e ingredientes, mas aqui, apresento a
receita que vem dos relatos do folclorista Luiz da Câmara Cascudo, citando como
referência a obra de 1941, Liceu Cearense, de Gustavo Barroso.
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de arroz cozido
4 xícaras (chá) de feijão de corda (ou feijão
verde) cozido
1 colher (sopa) de manteiga de garrafa
2 xícaras (chá) de toucinho defumado em cubos
1/2kg de carne de sol dessalgada e cortada em
cubinhos
1 cebola picada
6 dentes de alho picados
2 e 1/2 xícaras (chá) de queijo coalho em cubos
1 maço de coentro
sal a gosto
Modo de preparo:
1- Lave o feijão e deixe o feijão de molho de véspera.
2- No dia seguinte, cozinhe-o juntamente com o toucinho defumado em dois e meio litros de água fria.
3- Tampe a panela e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 1 hora.
4- Em outra panela, doure a cebola e o alho, em um pouco de manteiga.
5- Junte o arroz e refogue bem até ficar brilhante e um pouco transparente.
6- Acrescente o feijão e o paio já cozidos, juntamente com o caldo.
7- Tampe a panela e deixe cozinhar até que o arroz fique cozido, úmido e com consistência cremosa.
8- Durante o cozimento do arroz, se necessário adicione água, tomando o cuidado para não deixar a mistura ficar seca.
9- Junte o coentro e mexa com cuidado.
10- Cubra o arroz com as o queijo.
11- Tampe a panela novamente e deixe que o vapor derreta o queijo.
1- Lave o feijão e deixe o feijão de molho de véspera.
2- No dia seguinte, cozinhe-o juntamente com o toucinho defumado em dois e meio litros de água fria.
3- Tampe a panela e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 1 hora.
4- Em outra panela, doure a cebola e o alho, em um pouco de manteiga.
5- Junte o arroz e refogue bem até ficar brilhante e um pouco transparente.
6- Acrescente o feijão e o paio já cozidos, juntamente com o caldo.
7- Tampe a panela e deixe cozinhar até que o arroz fique cozido, úmido e com consistência cremosa.
8- Durante o cozimento do arroz, se necessário adicione água, tomando o cuidado para não deixar a mistura ficar seca.
9- Junte o coentro e mexa com cuidado.
10- Cubra o arroz com as o queijo.
11- Tampe a panela novamente e deixe que o vapor derreta o queijo.
Dicas:
- Demolhe a carne na geladeira mesmo, de um dia para
o outro trocando a água pelo menos três vezes.
- Ao fazer o feijão, cubra dois dedos acima da medida
do feijão com água. Podem ser adicionados aromáticos ou carnes. Após, pega a
panela, deixei mais 15minutos e pronto.
- Lembrando: arroz cozido em água com três partes
de água para uma parte de arroz.
- Mexa a panela debaixo para cima, para não
quebrar o arroz.
No poema você aprende:
Se você for ao
Nordeste,
Lá pras bandas do Ceará
Uma comidinha típica
Quero lhe apresentar
É o nosso baião-de-dois
Garanto que vai gostar.
É um saboroso prato,
Que vale a pena provar,
Tem uma receita simples
Até posso lhe ensinar
Pois comi muito baião
E aprendi a preparar.
Pegue o feijão de
corda,
Sendo verde ou maduro.
Cozinhe numa panela,
Não deixe mole nem
duro.
Estando cozido e
inteiro,
Fica bom lhe asseguro.
Numa panela a parte,
Refoga com alho o
arroz.
Estando bem refogado,
Jogue o feijão depois.
Em seguida ponha água
Que baste ao
baião-de-dois.
Não esqueça de refogar
Com a manteiga da
terra.
Pedaços de queijo de
coalho
Quem usa a receita não
erra.
Coentro use a vontade,
E assim a receita
encerra.
Receita Tradicional em
Versos de Cordel
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